Boas Práticas de Proteção Radiológica em Clínicas Veterinárias

O uso de radiações ionizantes, como radiografias e tomografias, tornou-se indispensável no diagnóstico e tratamento de animais em clínicas veterinárias. Contudo, a manipulação de equipamentos radiológicos apresenta riscos que exigem medidas rigorosas para proteger profissionais, pacientes e o meio ambiente.

Neste artigo, abordaremos as principais boas práticas de proteção radiológica que devem ser implementadas em clínicas veterinárias, assegurando tanto a conformidade legal quanto a segurança de todos os envolvidos.

Por que as Boas Práticas de Proteção Radiológica São Fundamentais?

A utilização de radiações ionizantes em clínicas veterinárias está sujeita a regulamentações rígidas, definidas pelo Decreto-Lei n.º 108/2018 e suas alterações. Estas normas visam garantir que as instalações, os equipamentos e os profissionais estejam adequadamente preparados para minimizar os riscos associados à radiação.

Além de proteger os profissionais e os animais, a implementação de boas práticas de proteção radiológica ajuda a cumprir as exigências legais, evitando coimas, interrupções nas atividades e danos à reputação da clínica.

Elementos Essenciais das Boas Práticas de Proteção Radiológica

1. Licenciamento e Conformidade Legal

Toda clínica veterinária que utiliza radiações ionizantes deve possuir:

  • Licenciamento da instalação: Incluindo um plano de proteção radiológica detalhado.

  • Registo de equipamentos radiológicos: Junto à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).

  • Conformidade com normas legais vigentes: Garantindo que a instalação segue os requisitos técnicos e de segurança definidos pela legislação.

2. Nomeação de um Delegado de Proteção Radiológica (DPR)

A designação de um Delegado de Proteção Radiológica (DPR), anteriormente chamado Responsável pela Proteção Radiológica (RPR), é obrigatória. Este profissional certificado desempenha um papel crucial na segurança radiológica, com responsabilidades como:

  • Realizar avaliações de risco.

  • Monitorizar os níveis de radiação na clínica.

  • Garantir a conformidade com os regulamentos aplicáveis.

3. Formação dos Profissionais

Todos os profissionais que operam equipamentos radiológicos devem receber formação específica em proteção radiológica. Esta formação inclui:

  • Princípios básicos da radiologia.

  • Utilização segura dos equipamentos.

  • Procedimentos de emergência relacionados com a exposição radiológica.

Embora algumas regulamentações específicas para formação tenham sido revogadas em Portugal, é imprescindível que as clínicas continuem a capacitar as suas equipas para garantir a segurança e a eficiência das operações.

4. Aplicação do Princípio ALARA

O princípio ALARA ("As Low As Reasonably Achievable" ou "Tão Baixo Quanto Razoavelmente Exequível") deve ser adotado para minimizar a exposição à radiação. Isto significa que o titular da instalação deve garantir:

  • Realização de procedimentos de forma eficiente e rápida.

  • Que os profissionais permaneçam afastados da área de maior exposição, sempre que possível.

  • Instalação de barreiras e paredes blindadas para proteger contra a radiação dispersa.

5. Uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI)

Os EPIs são obrigatórios para os profissionais expostos à radiação. Estes incluem:

  • Aventais de chumbo.

  • Coleiras de proteção para a tiroide.

  • Luvas de proteção.

  • Óculos de proteção.

Estes equipamentos reduzem significativamente os riscos de exposição direta à radiação durante os procedimentos.

6. Monitorização da Exposição dos Profissionais

A dosimetria pessoal é obrigatória para todos os profissionais que manipulam equipamentos radiológicos. Esta prática permite monitorizar os níveis de exposição acumulada e garantir que não ultrapassem os limites permitidos pela legislação.

7. Planeamento e Estrutura das Instalações

As áreas que acomodam os equipamentos radiológicos devem ser projetadas para evitar a fuga de radiação e garantir a segurança. Isso inclui:

  • Blindagem das paredes e portas: Para conter a radiação dentro da sala de exame.

  • Sinalização apropriada: Identificando zonas controladas e perigosas.

  • Controle de acesso: Apenas pessoas autorizadas devem entrar nas áreas de exposição.

8. Manutenção e Controlo de Qualidade dos Equipamentos

A manutenção regular dos equipamentos radiológicos é essencial para garantir o seu bom funcionamento e evitar exposições desnecessárias. As melhores práticas incluem:

  • Controlo de qualidade periódico: Verificando a precisão e o desempenho dos equipamentos.

  • Manutenção preventiva: Evitando falhas inesperadas.

  • Auditorias regulares: Para assegurar a conformidade com os padrões de segurança.

9. Gestão de Resíduos Radiológicos

Embora o uso de radiações ionizantes em clínicas veterinárias gere poucos resíduos, é fundamental descartar adequadamente materiais contaminados, como películas radiográficas, seguindo as normas ambientais em vigor.

10. Prevenção e Gestão de Incidentes Radiológicos

As clínicas devem estar preparadas para lidar com eventos radiológicos ou exposições involuntárias. Sempre que ocorrer um incidente, é necessário:

  • Notificar imediatamente a APA.

  • Registar todos os detalhes do evento.

  • Implementar ações corretivas para evitar recorrências.

11. Outros Requisitos Complementares

Além das medidas específicas de proteção radiológica, as clínicas devem:

  • Contratar um seguro de responsabilidade civil para cobrir possíveis incidentes.

  • Estabelecer protocolos de medicina e segurança no trabalho, adaptados à realidade da clínica.

  • Garantir práticas de esterilização adequadas, internas ou externas, conforme necessário.

Conclusão

A implementação de boas práticas de proteção radiológica em clínicas veterinárias é fundamental para proteger a saúde dos profissionais, dos animais e do meio ambiente. Além disso, estas práticas ajudam a garantir a conformidade com a legislação portuguesa, evitando coimas e interrupções nas atividades da clínica.

Ao adotar medidas como a designação de um Delegado de Proteção Radiológica, a formação adequada da equipa, o uso de EPIs, a aplicação do princípio ALARA e a manutenção rigorosa dos equipamentos, as clínicas veterinárias podem operar com segurança e eficiência.

Se a sua clínica precisa de apoio para implementar ou melhorar as suas práticas de proteção radiológica, considere consultar especialistas como a Legal In. O investimento em segurança não só cumpre a legislação, mas também reflete o compromisso com o bem-estar de todos os envolvidos.

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